Alguns parentes de mortos no voo gostariam que restos mortais permanecessem no mar
Alexandre Severo/14.06.2009/Reuters
Foto de junho de 2009 mostra trabalhadores do porto de Recife descarregando os destroços encontrados do avião da Air France desaparecido em junho de 2009
A recente descoberta de novos destroços do voo 447, da Air France, que desapareceu no Atlântico dois anos atrás, é um grande avanço na tentativa de identificar as causas da tragédia.
No entanto, para as famílias das 228 pessoas que morreram no desastre, a notícia também trouxe angústia e dúvidas.
Na semana passada, as equipes de busca encontraram, além de pedaços do avião - que fazia o trajeto Rio-Paris, em 31 de maio de 2009 -, restos mortais de algumas das vítimas.
Dentro de três semanas, começarão operações para a retirada de mais fuselagem, a uma profundidade de 4 km no Atlântico, e um número desconhecido de corpos deve ser retirado no processo.
Inevitavelmente, isso deve reavivar a dor da perda entre amigos e parentes das vítimas.
'Dois grupos'
“Entre as famílias, há dois grupos”, explica Robert Soulas, que perdeu sua filha, Caroline, de 24 anos, e o noivo dela, Sebastien.
- Há os que preferem deixar os corpos no leito oceânico. E há os que querem trazê-los para identificação e funeral. O segundo grupo é definitivamente maior. De certa forma, é um debate inútil. O governo francês já deixou claro que os corpos serão trazidos à superfície. Então, não temos escolha.
Para Soulas, acompanhar a operação de resgate promete ser uma experiência traumática.
- Vai ser muito dolorido. Faz dois anos que perdemos Caroline e Sebastien, e, com o tempo, lidamos com o ocorrido. Agora, de repente, temos que enfrentar uma nova situação em que talvez tenhamos que cuidar de um corpo, identificá-lo, preparar um enterro e assim por diante.
Um de seus temores é que apenas um dos corpos do casal seja recuperado.
- Isso seria terrível para nós, separá-los dessa maneira.
Resgate
Nas semanas seguintes ao acidente, cerca de 50 corpos foram resgatados na superfície.
Agora, ninguém sabe ao certo quantas vítimas poderão ser encontradas, e em que estado estarão dos restos mortais.
Segundo o médico forense Michel Sapanet, a profundidade pode ter ajudado a preservar os corpos.
- Grande profundidade significa baixas temperaturas e pouco oxigênio na água, que são boas condições para preservação. O tecido adiposo pode se transformar em uma espécie de cera, que reduz a velocidade da decomposição.
No entanto, ele adverte que a operação para trazer os restos mortais à superfície vai requerer grande cuidado, por conta das mudanças de pressão na água. Superado esse desafio, a identificação dos corpos não deve ser difícil.
Agora, o Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês) precisa escolher qual embarcação iniciará o processo de resgate.
Os barcos equipados para tal são usados por empresas de telecomunicações para instalar cabos no oceano, e três deles se candidataram para o serviço.
A operação usará veículos controlados remotamente e equipados com câmeras, braços robóticos e garras cortantes, que partirão a fuselagem em pedaços para trazê-la à superfície.
É possível que nem todas as partes da aeronave sejam removidas - só as consideradas essenciais para as investigações da causa do acidente. Assim, é possível que alguns dos corpos não sejam trazidos.
Mas há grandes expectativas de que, desta vez, as caixas-pretas da aeronave sejam recuperadas.
As famílias receberão mais informações sobre a operação em uma reunião com representantes do BEA, em Paris, daqui a duas semanas.
Fonte: http://noticias.r7.com
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